segunda-feira, 5 de setembro de 2016

ENCONTRO





Num dia qualquer na solidão de seu cotidiano, Gabriel como em outros iguais momentos, tão simplórios quanto, em meses já passados, usou da modernidade do seu tempo para externar uma possível mudança, não diretamente interior, mas de uma necessidade que vinha da carência tão comum do homem da cidade, que está sempre tão cercado por gente, mas gente muitas vezes frias de tudo e tantas vezes vazias de empatia que talvez até mesmo a solidão seja melhor companhia. Nessa busca, gerada pelos estímulos já implícitos, o levou a conhecer personalidades, ou melhor, o que delas deixavam transparecer, e viu humanos em seu ritual, se vendendo e querendo de certa forma a atenção que o próprio Gabriel tanto queria, e percebeu que a cada novo humano que surgia outros ficavam para trás e ao mesmo também se aplicava a sina, em alguns casos venturosamente até deve-se dizer! Mas sabemos, uma hora ou outra, uma se destacaria, e por pior que possa parecer, a dita cuja não disse nenhuma palavra, nem Gabriel, mas a obra da modernidade, com seus movimentos e cores, brincadeiras, humor, talvez de uma alegria inocente que nem sabiam que estava lá, tratou desse contato. Nessa brincadeira informal e cordial, que viria a esperada sequência, o contato escrito, com dialogo e simpatia, tentativas de conhecimento, saberes e afinidades, e até as coisas em comum que acabariam por gerar o medo infantil e a apreensão do que poderia vir.
 E nessas linhas o barco foi navegado, e no comum interesse saiu para o campo da realidade física, menos transcendental, mais carnal, e os contatos que viriam a se seguir, e as palavras que vieram a ser trocadas revelavam uma personalidade, em ambos os casos, diferente daquela idealizada já há algum tempo, e isso acabou por gerar uma maior intimidade, o gostar dos defeitos, o ver novas qualidades, e muitas vezes a irritação com a falta de compreensão, mas de toda forma não poderia se fazer claro, tem medo da indagação, medo do mundo, medo do perder o que nem se tem, e medo de ter medo, e não viver, não sonhar.
 Tentou se afastar, mas nunca foi racional o bastante para conseguir, e foi levando, pois como poucos, viu ali ouro, onde tantos outro só viam latão. Muitos foram os que lhe tentaram convencer, mas decidiu viver, dar tempo ao tempo e deixar a vida lhe contar com histórias e experiências o que dali brotaria, sejam espinhos, sejam flores, melhor é a vida.
 Sua mente cada vez mais confusa de dizeres e não dizeres, permaneceu, enamorado e infeliz,  talvez a falta de zelo tenha o feito tomar partido da ausência, e o fez querer novamente a solidão, não por suas qualidades, que não muito apreciava, mas talvez por uma desesperança naquilo que seria tão bom, mas não caia nas vias de fato.

 Resolveu viver, não abandonar, abriu o que acreditou ser sua alma, e deu a chave caso um dia quisesse entrar, não desistiu, mas não incentivou, sonhou, como sonhou, esperou e ainda espera, mas sem barreiras, sem fronteiras e dentro da subjetividade de suas palavras, tentou confortar, dar voz, se importar, e tirou por conclusão que se não muito vale o mundo, que valha ele próprio muito, para que ali faça falta, e necessário seja sempre que for lembrado.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Aspecto




Três e meia da tarde, após aquele curto sono decorrido a refeição pesada de mais um dia, olhos embaçados ao reflexo turvo da límpida vidraça de sua janela, se levanta, e para ter clareza, lava a face e os olhos. O casaco foi posto, não dos mais pesados para os frios dias que se aproximavam, mas suficientemente quente para estar confortável à forte serração e a ventania que as ruas lhe guardavam. Se fez caminhar pela arborizada avenida, céu cinzento, ao longe ara perceptível a fina nuvem e o chuvisco derradeiro. Rotina definiria esses acontecimentos que não apenas seriam a representação de meses, mas de uma época pessoal, que antes se arrastava pelos anos e agora já era pouco demais, e queria mais, sempre mais.
 O burburinho daqueles joviais anos de escola havia passado, vestibulares feitos, e vagas já devidamente ocupadas, não pensava mais nos trabalhos feitos com desdém que de certo lhe ajudaram, nem nas belas garotas de sua sala, mas nas que viriam a ser suas colegas durante os próximos anos, em sua nova cidade, e mais que isso, nos amores que lhe esperavam e do quão diferente seria a vida acadêmica do que até então conhecera. Também lhe viria a tristeza na mente, essa da separação, seja dos amigos que tomaram rumos diversos, e de outros que apesar da distância sabia que eram para eternidade, seja dos familiares e da facilidade com que eles tornavam sua vida, no fim era até consciente. Aquelas arvores secas de outono, desfolhadas e aqueles cortantes ventos lhe faziam pensar no quão verde seria seu futuro.
 Se mudou, e para lá onde foi, estudou, festou, namorou, e tantos outros “ous” que sabemos que existem, a euforia durou meses, e ao findar de sua cólera, a grama já não parecia tão vistosa, já vislumbrava outros sabores e odores, sem nem imaginar que a língua e o nariz sempre seriam os mesmos. Viveu a seu modo durante os anos que se seguiram e almejava cada vez mais rever aqueles que havia deixado para trás, e mais que isso, caminhar e se deslumbrar mais uma vez com a tristeza melancólica e nostálgica das dramáticas ruas de sua cidade.
 Certo dia voltou onde tudo se iniciara, diferente de quando saiu, era primavera, e as flores dos canteiros com as frondosas arvores de um verde claro sedutor faziam contraste com o inspirador azul anil de seu céu, mas não só por isso se fez estranhar às diferenças que logo notaria. A cidade apesar de igual já não era a mesma, as pessoas a quem a ela associava, nem de longe eram aquelas que um dia conheceu. Talvez em algum momento da sua lúdica visão imaginou que com sua ausência faria o tempo parar para aqueles, mas sua verdade foi despedaçada quando naquele mesmo reflexo da vidraça da janela que a tanto tempo se viu refletido, embaçado e impreciso, o elucidaria do fato de nem ele próprio ser mais o mesmo.

 Talvez os sonhos de sucesso, juventude e eternidade, nos ceguem para o fato de sermos tão humanos quanto quaisquer outros, e mais que isso, esconde de nossos corações que é impossível reviver aquilo que já passou, sejam momentos, sejam sentimentos, sejam lembranças, sejam lugares.  Assim como as cidades se destroem e reconstroem a cada dia de sua existência, nunca igual, um organismo vivo de fato, somos todos nós as pessoas, que a cada toque a cada segundo mudamos, seja por dentro, seja por fora.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Cíclico



Um dia quando aquele pequeno menino abriu os olhos pela manhã, vislumbrou ao olhar pela janela futuros e coisas que jamais se concretizariam, mas em algum momento não sei ao certo dizer qual, talvez tão impreciso quanto o próprio tempo, começou a caminhar, foi em busca de lições, aventuras e sabedoria e a cada mês que se passava e a cada vírgula que aprendia lhe mostravam outras mais, e regras que não muito lhe diziam. Foi dessa curiosidade de saber sempre mais e ir em frente, nunca, nunca para trás, que lhe apeteceu os estímulos, pelos livros e pela leitura, muitas vezes muito mais pelos livros como estrutura física, sejamos sinceros, mas lhe valiam se não em um momento em outro sem dúvida.
 E o menino tinha nome, soberbo e coerente, comum, porém austero e sempre se fez apreciador de que o usassem com integralidade, muito diferente de outros por aí tão incomodados com seus nomes compostos. Se fez galante e como exemplo do que tanto viu em seus gastos livros tomou seu caminho, longe esse de ser dos mais fáceis, mas mais ainda de ser o mais difícil, isso é claro, para ele difícil era o caminho errado, o caminho do fracasso, não haveria pior derrota e infelicidade, mas bom, houveram tempos em que o pobre quase descarrilhou de caminho, mas já adianto e deixo claro que não caiu nas vias de fato, e mesmo que o tivesse, o que importaria? No fim, substancialmente ele conseguiu o que queria.
 E o menino se fez homem e como homem, responsável, seus planos nem todos eram os mesmos, mas no final que diferença faria? Os livros estavam lá, presentes e diferentes, os velhos com novas interpretações, e os novos um burburinho de ideias, talvez deveria ter parado por ali, mas lhe restava tempo ainda, pra escolhas, mudanças e reflexões, e mal sabia ele que já era momento de ação.
 E os anos foram se passando, não mais meses como em outrora, e os dias que pareceram um certo tempo tão longos já não lhe eram suficientes, nem para seu caminho, nem para suas leituras à prazer, talvez muito menos para com seus próximos, o que talvez seja o pior. Seu caráter não era injusto, mas muito questionável a certos olhos, talvez o que lhe faltasse não fossem livros, nem os de ficção, nem os de história, mas uma certa ignorância que só quem não possui consegue admirar e valorizar. Amar já lhe ocorreu, de sua forma louca e agonizante, mas também lhe foi perceptível que o ardor de seu peito com a calmaria era apagado, gostava de êxtase, fervor e opulência de sentimentos, se não de nada lhe valia, adorava a inspiração, mas não creio que tenho se curado ao longo do tempo, foi-se petrificando, e aos poucos se congelou, não se exaltava nem se enamorava como em outrora, mas o carinho estava lá, talvez sinal de madurez.
Se fez Mestre, Doutor, graduado com honradez, se criou por conta própria, e trabalhou, como trabalhou. Descobriu inovações, ninguém nega sua contribuição, e vez ou outra quando lhe sobrava tempo, viajava, conhecia exoticidades, e nas dificuldades sabemos que até se ajoelhou, fez seu nome ser marcado, não mais um como tantos outros, talvez menos do que almejara. Os livros ainda estavam lá, mas já não os lia como inspiração, seu tempo passou e ele sabia, mas o objetivo ao qual a muito já lhe avia chegado já não lhe enchia os olhos.
 Envelheceu, com dinheiro, amigos, família, mais sobrinhos que quaisquer outros, não se casou ou pôs à frente sua prole, teve seus casos de paixão e amor e aqueles de carinho que duraram mais que quaisquer outros, e num dia qualquer de um mês de primavera nos deixou pra trás e seguiu em frente, geladeira cheia, uma meia dúzia de contas à pagar com seu devido dinheiro separado, plantas regadas e floridas no cume das janelas e laterais das portas, não parecia ter previsto aquilo, por mais previsível e calculada tivesse sido sua existência, ora enfadonha, ora gratificante. Viveu muito, cerca de 87 anos, mas há muitos que se questionavam, será que viveu mesmo? Houve uma nota aqui e outra acolá em jornais soltos por aí, alguns com certo alcance, nenhum muito popular, no sentido elitista da palavra. Seu nome afinal ficou marcado e conhecido, talvez nem tanto nas memórias, mas de certo nos papeis, talvez não nos papéis certos a que teria tanto desejado, mas estava lá impresso, com todas as letras sem sequer um retrato, fazendo-se assim mais um igual num mar de diferenças.

 No fim lhe restou as palavras e uma dúzia e pouca de lágrimas, mas independente do caminho será que há alternativa?

domingo, 27 de julho de 2014

BSB


 Na estrada do caminho contínuo, na secura do mundo, da pele, é o vento, é o tempo, o lamento.   
 Margeado pela ciente e incoerente decisão, vejo céus, nuvens e o desalento ao inexistente horizonte, percebo o quão distante estou, das montanhas e verdor, do frio e do calor que diferente daqui não se elucidam.
  Não vejo vales, mas vejo construções, essas, inebriantes e colossais, diria até desumanas, mostram em sua grandeza, e escala descomunal, a perfeita realidade que cerceia a vitalidade da nossa política. O que deveria ser perto, é de inúmeras maneiras longe, o que deveria ser acessível,  é em grande parte inatingível, o que deveria ser básico, é a lúgubre exceção, e por fim o que deveria ser vivo, bem, essa  ainda vejo algo, há salvação.
 Em diversos momentos me causou estranhamento como aquilo que é a representação em forma de cidade do que poderíamos chamar de povo brasileiro, é em tão singulares formas e designações a cidade menos brasileira em que já estive, e quando falo isso, não tomo por reflexo, seus cidadãos ou sua geometria distante e singular que mais separa do que une, mas sim o espirito da própria cidade, que embora belíssima, não permite que o humano, esse para a qual a mesma foi construída, a utilize de forma plena.
 Bom talvez só tenha me faltado um carro, quem sabe com ele eu me sentiria mais humano e em uma cidade mais humana.

 Metal da a estrutura, o concreto a forma, e a calçada, bem, não a vi, nem de um jeito nem de outro.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Poesia


Versos, presos, simétricos, lutadores.
se digladiam pela atenção,
criam a forma e constroem a estrutura.
Insistem em sua personalidade redundante.

é belo, diz o orador.
Inconsistência de sentidos, alucinações de sentimentos.
Razão? definitivamente não!
Poesia é sonhar alto, é a desvirtude da coerência.

Ah,  poesia, seus lamentos não me tocam, me enfurecem.
Sua obscuridade não me amedronta, mas talvez me cure.
Seus desejos? desconheço.
Há coisa mais poética e incoerente do que falar de você em você mesma?

terça-feira, 11 de março de 2014

Palavras



Palavras subscritas  no tempo duradouro.
Letras, dizeres, alucinações pendentes.
Corre pelo tempo reluzente, e conta, e chora.
Bom és tu que não conheces.

Sente o sabor da idade, das histórias e dos fatos,
mente se assim lhe convém, e cria se o vê belo,
transmite e ensina, não que a muitos acrescente.
Bom és tu que nunca será eterno.

Sacia a alma dos famintos do hoje e de outrora.
Crava estacas, fortes e profundas no papel e na alma.
Modifica e preserva, pedra por pedra, virgula por virgula.
Bom és tu que jamais verá

Palavras subscritas no tempo duradouro.
Jamais dirá que sabe, mas mentiras também são ditas.
Derruba impérios, eleva egos, pela sua breve vontade.
Bom és tu que desconheces o que digo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Troféu



 Nos olhares da plateia que observa a decadência e apogeu dos personagens, caracterizados como seu entretenimento, está a força que exposta em seus braços como a relevância das mudanças, nos enganam, e fazem com que em nossas mentes sejamos importantes, mais do que realmente somos. Somos apenas mais um? Posso ser pessimista e dizem sim! Porém de fato não acredito nisso, um simples gesto pode não fazer uma grande diferença a princípio, mas se tivéssemos conhecimentos das grandes coisas que eles fazem, nós não os negaríamos.
  Proponho então, sejamos grandes, mesmo que isso não seja tão fácil, tente ser o melhor que conseguir, mediocridade é apenas um período que você passa antes de ser realmente bom, você apenas será medíocre se desistir antes de chegar ao final, o que grande parte das pessoas faz.
 No pedestal ficam grandes nomes! Não imposta o que você faça, se for realmente bom nisso, e for o que você deseja para sua vida, seja o melhor, suba no pedestal e pegue seu troféu, afinal, você mereceu!